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Apps Freemium x Apps pagos: como os aplicativos ganham dinheiro e como isso afeta as crianças

O mercado de aplicativos está em constante crescimento e mudança, e as crianças são um público importante e muito visado dentro desse meio. Hoje vamos falar sobre dois modelos de apps que podem fazer toda a diferença no conteúdo e na vida das crianças. São os apps Freemium e Premium (ou pagos)

O que é monetização?

Monetização é a forma que o aplicativo ganha dinheiro. Existe alguns modelos de monetização para aplicativos:

  • Apps pagos: quando você paga pelo app e por todo o conteúdo dele uma única vez. Não têm propagandas.
  • Apps de assinatura: quando você paga periodicamente. Pode ser todo o mês, todo o semestre ou todo o ano. Os aplicativos com esse modelo atualizam e aumentam os conteúdos do app regularmente, lançando coisas novas em que o usuário possa aproveitar na assinatura. Não têm propagandas.
  • Apps freemium: são grátis, mas vendem itens dentro dos aplicativos. Podem ser pacotes de jogos, vidas, livros, efeitos, treinos, etc. Podem ter propagandas.
  • Apps de grandes marcas: muitas marcas disponibilizam seus aplicativos e seus conteúdos de forma 100% gratuita. Quando isso acontece, o aplicativo é, por si só, a publicidade da marca, e por isso não faz sentido esse tipo de app ter propagandas de outras marcas. 
  • Apps 100% grátis: aplicativos que disponibilizam todo o conteúdo de forma gratuita. A monetização acontece através de anúncios dentro do app. Ou seja: tem propagandas a cada fase, vídeo, tantos minutos, etc. É comum que o usuário consiga “pular” o anúncio depois de alguns segundos assistindo a propaganda. 

Lembre-se: nada é de graça na internet. Você pode não ter tirado a carteira do bolso para usar algum app, mas você paga de alguma forma. 

Por que apps grátis não são recomendados para crianças

Os aplicativos infantis gratuitos monetizam através de propagandas. Ainda que os próprios aplicativos conseguem banir alguns tipos de propagandas, erros acontecem. Já vimos anúncios de bebidas alcoólicas em apps infantis que sabíamos que faziam esse controle, por exemplo. 

Crianças só começam a entender o que é uma propaganda por volta dos 8 anos de idade, de acordo com Common Sense Media. Antes disso, elas consomem como se fosse conteúdo normal de entretenimento, ou seja, sem nenhum filtro. 

O anunciantes sabem que quanto mais cedo as crianças aprendem sobre uma marca, maior será a probabilidade de comprar o produto mais tarde (ou de implorar aos pais para comprá-lo). A exposição de crianças às propagandas pode estimular o desejo por estímulos excessivos, uma alimentação nada balanceada e, principalmente, o consumismo.

Aplicativos Freemium

Os aplicativos gratuitos também podem vender itens dentro dos aplicativos. Essa prática é bem comum e pode ser que esse tipo de app tenha ou não anúncios. Eles são chamados de Freemium: uma junção das palavras em inglês free, que significa grátis, e premium, que traz a ideia de qualidade.

Esses apps vendem vidas extras, algum tipo de ajuda para passar de fase, roupas e acessórios para customizar personagens, presentes para dar para outros jogadores, e por aí vai. 

O problema é como essa “venda” é feita. Em muitos apps não fica claro que a compra é de verdade, com dinheiro real, cobrado direto no cartão de crédito dos pais. É comum crianças acharem que é “de brincadeira” e que faz parte do jogo, e compram vários itens, porque a maioria deles não usa nenhum tipo de controle parental, senha, ou bloqueio para que a criança precise dos pais. Neste vídeo é fácil perceber que uma criança que ainda não é totalmente alfabetizada consegue fazer compras dentro do app sem saber o que isso realmente significa.

Uma outra prática comum neste tipo de aplicativo são as “fases impossíveis”, em que os jogadores que já estão engajados não conseguem nunca passar de fase. Isso acontece de propósito e é “colocado”. E a única forma de passar de fase é comprar itens que ajudam. Essa compra também pode acontecer através de ads, por exemplo: “Assista ao anúncio e ganhe um power up”. 

Loot Box

As loot boxes são um dos itens vendidos dentro desses aplicativos. As loot boxes são caixas surpresas com itens que podem ser usados no jogo. Quando você compra ou ganha uma, não se sabe o que vem dentro. Ou seja: muitas crianças compram as loot boxes na esperança de vir um item raro, mas as chances são mínimas e, na grande maioria das vezes, vem um item comum e mais barato do que a própria loot box.

Essa mecânica é igual às usadas nas máquinas de caça-níqueis em cassinos: elas viciam e estão em jogos populares entre as crianças. 

Existem muitos aplicativos freemium que não têm propagandas, mas eles foram desenhados para que o jogador fique o maior tempo possível dentro do app. Ou seja, o conteúdo que ele entrega é viciante. Mesmo que os usuários não tenham mais vidas, ou que o jogador não consiga passar de fase, o jogo usa mecânicas e artifícios que induzem o usuário a comprar pacotes de vida, ajudas ou até mesmo a assistir um anúncio em troca de uma vida.

Utilização de dados

E se você não identifica nenhuma das opções acima no aplicativo gratuito que seu filho usa, é porque ele recolhe dados. Todos os aplicativos pegam dados dos seus usuários, não se engane. Há duas utilidades dos dados recolhidos em aplicativos: melhorias dentro do próprio app e para melhorar a usabilidade, e utilizar esses dados para marketing. A segunda opção é o que praticamente todos os apps gratuitos fazem com os dados dos usuários. 

Mas o que são esses dados?

Os dados que os aplicativos pegam são quanto tempo você fica no app, onde você clica, quanto tempo fica em cada fase, quais conteúdos do aplicativo que você consome, quais os horários que você usa. Se houver propaganda dentro do aplicativo, também é possível saber quais os tipos de propaganda que você assiste tudo, quais você pula, quanto você fica em cada propaganda, etc. São tantos dados que é difícil de listar todas as possibilidades. 

Depois que toda essa informação é recolhida, algoritmos conseguem fazer um perfil seu: suas preferências, o que você gosta de ver, os horários que você usa o celular, que você faz suas refeições, que você estuda ou trabalha,quando você vai dormir, se você gosta de futebol, quais filmes e séries você assiste na TV, etc.

E tudo isso é vendido para que outras empresas utilizem você como consumidor. O seu perfil é vendido para que empresas mostrem propagandas para você, porque seus interesses combinam com o ´produto vendido.

Isso pode ser bem problemático porque a maioria das pessoas não sabe onde ou para quê seus dados estão sendo usados. Mas o ponto é: crianças não fazem ideia o que isso significa. E por esse motivo, apps infantis são proibidos de utilizar dados de crianças menores de 13 anos.

Na prática

Para burlar esse sistema, muitos apps não se posicionam como infantis para que possam utilizar esses dados, mesmo que saibam que seu público é majoritariamente infantil. Eles “lavam as mãos” e dizem que não é indicado para menores de 13 anos, ainda que toda a linguagem, estética e temática do aplicativo é voltado para crianças. 

Essas empresas usam esses dados para vender propagandas. O que acontece com a criança é que ela é bombardeada de anúncios para ela, baseado nos seus gostos, idade, gênero, preferências de brinquedos, cores, hora de dormir, atividades extra-curriculares, etc. E sabemos que crianças não recebem esses anúncios como adultos, é um conteúdo muito mais violento e perigoso para elas. Além de que praticamente não há nenhum órgão que regule essas propagandas, principalmente aqui no Brasil.

Por que pagar por um aplicativo para meus filhos?

Muitos apps infantis estão mudando a sua estratégia de monetização, onde o usuário precisa fazer a compra do app. Existe dois modelos mais usados hoje em dia: o que você paga pelo app e o que você paga pela assinatura. O que você paga pelo aplicativo unitário,a compra é feita ao baixar o aplicativo na loja de apps. Geralmente você só paga uma única vez e todos os conteúdos estão disponíveis, mas não há novos conteúdos, apenas atualizações para resolver possíveis bugs. 

Quando o app é assinatura, você faz o download do app de graça e é só dentro do aplicativo que você vai fazer a compra dos conteúdos. Você precisa assinar um dos planos oferecidos para ter acesso. Os planos podem ser  mensais onde você paga todo o mês; semestrais, onde você paga a cada seis meses; ou anuais, onde você paga pelo ano inteiro. A compra é feita depois de senhas, controles parentais e telas “de adulto” que não chamam atenção das crianças, ou seja, é muito difícil que a criança compra uma assinatura sem querer.

Aplicativos de assinatura geralmente oferecem um período de teste para que a criança experimente o app e os pais possam decidir se vale a pena fazer o investimento. Como é um investimento mês a mês, apps de assinatura geralmente oferecem novos conteúdos e sempre estão atualizando as novidades dentro do aplicativo. 

Outros benefícios

Esses dois modelos não têm propagandas, ou seja, os dados das crianças não são comercializados. Isso quer dizer que esses aplicativos não pegam os dados dos meus filhos? Não, não quer dizer isso. Esses aplicativos pegam alguns dados que quem usa o app sim, mas esses dados não são vendidos para marketing para que mais propagandas “assertivas” apareçam para o seu filho.

Os apps pagos usam os dados dos usuários para melhorar a experiência dentro do app. Por exemplo: é através desses dados que os desenvolvedores do app identificam um bug, ou quando o botão importante não está comunicando o necessário porque não está sendo usado. Como esses aplicativos não contém anúncios, esses dados não saem dos aplicativos.

Crianças e exposição às telas: até onde pode?

Quem nasceu a partir de 1985 faz parte da geração millennial*, considerada “nativa digital”, ou seja: crianças cresceram cercados por várias tecnologias, incluindo uso de telas. Televisão e videogames eram as tecnologias utilizadas por crianças e jovens nas décadas de 1980 e 1990 e tinham bastante influência em países como Brasil, Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos.

Os millennials já estão no mercado de trabalho, criando famílias e experimentando a maternidade. É uma geração que dá bastante valor à tecnologia, afinal, cresceu em meio à ela. Um exemplo disso é que, segundo o site Mindminners, ter um smartphone é tão importante quanto um plano de saúde para essa geração.

E os filhos dos millennials, como ficam no meio de tudo isso? Como as crianças podem conviver com telas e gadgets de forma saudável?

Criança no colo da mãe, que segura um tablet (telas) com o app Truth and Tales aberto numa tela. Ilustrações de passarinhos e fadas.
Equilíbrio sempre é bem-vindo: sugerir, participar e priorizar brincadeiras sem telas e offline com crianças, mas não proibir o uso total das telas.

Aplicativos de livros, histórias, educação, jogos e vídeos musicais são bem populares nas telas de celulares e tablets dos pais de crianças entre dois e oito anos. A maioria das crianças já sabe usar e vai pedir, já que vê os pais utilizando o aparelho. Nessa idade, é recomendável priorizar o tempo com a criança sem o uso dessas ferramentas, já que a criança quer brincar com alguém. Se a atenção dos pais estiver na criança, a ânsia por querer passar o tempo com as telas será bem menor.

Vale lembrar que flexibilidade é a palavra-chave! À medida que a criança vai crescendo, a vontade de brincar online também cresce. As “regras” sempre devem ser revistas e refletidas pelos pais de tempos em tempos, e analisar se ainda é válida e efetiva para a criança.

Deixar que criança maiores que 2 anos de idade tenham contato com smartphones e tablets é quase inevitável nos dias de hoje e, por isso, proibir não é a solução: a criança vai querer mais ainda.

Equilíbrio sempre é bem-vindo: sugerir, participar e priorizar brincadeiras sem telas e offline, mas não proibir o uso total das telas.

Na prática

Marianna Nolasco, de 33 anos, é mãe da Laila, de 8. A Laila ganhou o iPad antigo dos pais aos 2 anos de idade. Naquela época, Marianna não sentia necessidade de limitar o tempo de uso das telas, já que Laila se dividia bastante entre brincadeiras, iPad e os bichinhos de estimação. O iPad tinha bastante aplicativos de jogos e vídeos educativos.

Hoje, Laila herdou o celular antigo da mãe, mas não usa por ser ultrapassado. Ela prefere utilizar o celular dos pais para jogar, apesar de ter um iPad só pra ela. Seu jogo preferido é Minecraft. Marianna conta que os últimos meses têm sido uma briga, já que Laila quer passar a maioria de seu tempo livre no jogo.

Por causa disso, Marianna limitou o tempo de uso: agora, Laila pode usar no máximo duas horas por dia (uma de manhã e uma de noite). Além de Minecraft, Laila gosta bastante de jogar Love Balls junto com a mãe, que virou um passatempo das duas.

:: Confira também: Como encontrar o equilíbrio com tela na vida das crianças ::

Riscos

Segundo a Sociedade Canadense de Pediatria, a exposição a telas (qualquer tipo: televisão, computador, celulares, tablets) afeta negativamente crianças menores de cinco anos na linguagem, atenção, desenvolvimento cognitivo, execução de tarefas, memória a curto prazo, leitura e matemática. Em relação às crianças menores de 2 anos, foi percebido dificuldade em diferenciar o que é realidade e o que acontece nas telas.

Além disso, crianças expostas em excesso às telas, ou seja, mais de duas horas por dia, apresentam comportamentos agressivos e antissociais, geralmente porque os pais estão mais inclinados a utilizar as tecnologias como “chupeta” para crianças com comportamento “desafiador”.

Saúde física

Quando se trata de saúde física, crianças que ficam bastante tempo na frente das telas rotineiramente têm um risco maior de sedentarismo e sobrepeso. Quando aplicativos não têm controle parental, as crianças estão expostas à propagandas de fast food, por exemplo, que encorajam a comer “lanchinhos” fora de hora e incentivam esse padrão de alimentação, além de passarem mais tempo sentadas ou deitadas expostas às telas quando poderiam estar praticando atividades que demandam um mínimo de exercício físico.

Esse tipo de propaganda atinge geralmente crianças de 2 a 6 anos. Problemas de sono também estão associados à exposição das telas: utilizar aparelhos com telas brilhantes — que contém luz azul — antes de dormir causam supressão de melatonina, o hormônio do sono. Para mitigar esse problema muitos aparelhos e apps contam com a ferramenta de controle de luz azul, que diminui o brilho da tela do aparelho e minimiza os efeitos da insônia.

Benefícios

Os benefícios potenciais no desenvolvimento de crianças acontecem a partir dos dois anos de idade, quando é exposta a um conteúdo, linguagem, tempo e design apropriados para essa fase. Programas e apps de qualidade promovem aspectos positivos no desenvolvimento cognitivo, imaginação, linguagem (aprendendo novas palavras) e ajudam na alfabetização.

Vale lembrar que os benefícios só se dão quando a exposição à telas é feita de maneira responsável, acompanhado e sem substituir o afeto e a presença dos pais e familiares.

Em relação à saúde física, é muito difícil dizer que o uso de telas é benéfico para crianças. Apenas se crianças utilizarem apps relacionados a alguma atividade física, como yoga ou dança, em que os usuários precisam se movimentar, terão algum benefício.

Este benefício pode ser encontrado também em jogos como Just Dance do Nintendo Wii, e o Labo, um acessório de papelão para o Nintendo Switch que permite que o usuário monte ferramentas para interagir com os jogos, como armaduras, por exemplo.

Aplicativos com alguma interatividade, em que as crianças consigam sair na postura do celular na altura da barriga e a cabeça pra baixo, e ajeitar a postura e se mexer, também podem ter algum benefício em relação aos que não contêm interatividade alguma.

Recomendações

Para minimizar os efeitos negativos, a Sociedade Canadense de Pediatria sugere que as crianças sempre estejam acompanhadas dos pais ou de outro familiar neste tipo de atividade.

Priorizar aplicativos educacionais e que a criança utilize a criatividade e tenha interatividade, respeitar a classificação indicativa e evitar conteúdos com propaganda também são sugestões importantes.

Escolher junto com a criança o que vai ser visto também é efetivo (“vamos assistir isto, neste momento por este motivo”). Limitar o uso de smartphones em espaços públicos, durante rotinas familiares e durante as refeições é um bom hábito para aumentar e incentivar a interação com familiares amigos, e fazer com que a criança consiga distinguir desde cedo o que é e o que não é realidade.

Conteúdo

Quanto à escolha do que consumir, o recomendável é escolher pelos conteúdos de qualidade e que não exponha a criança à propagandas e anúncios. Caso haja exposição, ajude a criança a reconhecer e questionar propagandas, estereótipos ou outros conteúdos.

Em relação aos conteúdos, preste atenção em alguns itens como imagem corporal, violência, problemas sociais, diversidade e gênero.

Por causa da qualidade do sono, é recomendável que a criança não tenha nenhum tipo de aparelho eletrônico no quarto e evite utilizar aparelhos com tela por pelo menos uma hora antes de dormir.

Vale lembrar

Uso de telas por crianças com menos de 2 anos não é recomendado. Crianças entre 2 e 5 anos é recomendado o uso de no máximo uma hora por dia e não deve fazer parte da rotina das crianças.

Os pais também devem se policiar ao uso de celulares. Crianças seguem exemplos, e se os pais passam muito tempo atrás das telas, as crianças também vão querer. Aproveitar os momentos em família e respeitar a hora das refeições sem o uso de telas é fundamental para que a criança tenha bons hábitos em relação à todas as tecnologias.

Referências: Canadian Paediatric Society MindMiners Clinical Report—The Impact of Social Media on Children, Adolescents, and Families