O mercado de aplicativos está em constante crescimento e mudança, e as crianças são um público importante e muito visado dentro desse meio. Hoje vamos falar sobre dois modelos de apps que podem fazer toda a diferença no conteúdo e na vida das crianças. São os apps Freemium e Premium (ou pagos).
Monetização é a forma que o aplicativo ganha dinheiro. Existe alguns modelos de monetização para aplicativos:
Lembre-se: nada é de graça na internet. Você pode não ter tirado a carteira do bolso para usar algum app, mas você paga de alguma forma.
Os aplicativos infantis gratuitos monetizam através de propagandas. Ainda que os próprios aplicativos conseguem banir alguns tipos de propagandas, erros acontecem. Já vimos anúncios de bebidas alcoólicas em apps infantis que sabíamos que faziam esse controle, por exemplo.
Crianças só começam a entender o que é uma propaganda por volta dos 8 anos de idade, de acordo com Common Sense Media. Antes disso, elas consomem como se fosse conteúdo normal de entretenimento, ou seja, sem nenhum filtro.
O anunciantes sabem que quanto mais cedo as crianças aprendem sobre uma marca, maior será a probabilidade de comprar o produto mais tarde (ou de implorar aos pais para comprá-lo). A exposição de crianças às propagandas pode estimular o desejo por estímulos excessivos, uma alimentação nada balanceada e, principalmente, o consumismo.
Os aplicativos gratuitos também podem vender itens dentro dos aplicativos. Essa prática é bem comum e pode ser que esse tipo de app tenha ou não anúncios. Eles são chamados de Freemium: uma junção das palavras em inglês free, que significa grátis, e premium, que traz a ideia de qualidade.
Esses apps vendem vidas extras, algum tipo de ajuda para passar de fase, roupas e acessórios para customizar personagens, presentes para dar para outros jogadores, e por aí vai.
O problema é como essa “venda” é feita. Em muitos apps não fica claro que a compra é de verdade, com dinheiro real, cobrado direto no cartão de crédito dos pais. É comum crianças acharem que é “de brincadeira” e que faz parte do jogo, e compram vários itens, porque a maioria deles não usa nenhum tipo de controle parental, senha, ou bloqueio para que a criança precise dos pais. Neste vídeo é fácil perceber que uma criança que ainda não é totalmente alfabetizada consegue fazer compras dentro do app sem saber o que isso realmente significa.
Uma outra prática comum neste tipo de aplicativo são as “fases impossíveis”, em que os jogadores que já estão engajados não conseguem nunca passar de fase. Isso acontece de propósito e é “colocado”. E a única forma de passar de fase é comprar itens que ajudam. Essa compra também pode acontecer através de ads, por exemplo: “Assista ao anúncio e ganhe um power up”.
As loot boxes são um dos itens vendidos dentro desses aplicativos. As loot boxes são caixas surpresas com itens que podem ser usados no jogo. Quando você compra ou ganha uma, não se sabe o que vem dentro. Ou seja: muitas crianças compram as loot boxes na esperança de vir um item raro, mas as chances são mínimas e, na grande maioria das vezes, vem um item comum e mais barato do que a própria loot box.
Essa mecânica é igual às usadas nas máquinas de caça-níqueis em cassinos: elas viciam e estão em jogos populares entre as crianças.
Existem muitos aplicativos freemium que não têm propagandas, mas eles foram desenhados para que o jogador fique o maior tempo possível dentro do app. Ou seja, o conteúdo que ele entrega é viciante. Mesmo que os usuários não tenham mais vidas, ou que o jogador não consiga passar de fase, o jogo usa mecânicas e artifícios que induzem o usuário a comprar pacotes de vida, ajudas ou até mesmo a assistir um anúncio em troca de uma vida.
E se você não identifica nenhuma das opções acima no aplicativo gratuito que seu filho usa, é porque ele recolhe dados. Todos os aplicativos pegam dados dos seus usuários, não se engane. Há duas utilidades dos dados recolhidos em aplicativos: melhorias dentro do próprio app e para melhorar a usabilidade, e utilizar esses dados para marketing. A segunda opção é o que praticamente todos os apps gratuitos fazem com os dados dos usuários.
Os dados que os aplicativos pegam são quanto tempo você fica no app, onde você clica, quanto tempo fica em cada fase, quais conteúdos do aplicativo que você consome, quais os horários que você usa. Se houver propaganda dentro do aplicativo, também é possível saber quais os tipos de propaganda que você assiste tudo, quais você pula, quanto você fica em cada propaganda, etc. São tantos dados que é difícil de listar todas as possibilidades.
Depois que toda essa informação é recolhida, algoritmos conseguem fazer um perfil seu: suas preferências, o que você gosta de ver, os horários que você usa o celular, que você faz suas refeições, que você estuda ou trabalha,quando você vai dormir, se você gosta de futebol, quais filmes e séries você assiste na TV, etc.
E tudo isso é vendido para que outras empresas utilizem você como consumidor. O seu perfil é vendido para que empresas mostrem propagandas para você, porque seus interesses combinam com o ´produto vendido.
Isso pode ser bem problemático porque a maioria das pessoas não sabe onde ou para quê seus dados estão sendo usados. Mas o ponto é: crianças não fazem ideia o que isso significa. E por esse motivo, apps infantis são proibidos de utilizar dados de crianças menores de 13 anos.
Para burlar esse sistema, muitos apps não se posicionam como infantis para que possam utilizar esses dados, mesmo que saibam que seu público é majoritariamente infantil. Eles “lavam as mãos” e dizem que não é indicado para menores de 13 anos, ainda que toda a linguagem, estética e temática do aplicativo é voltado para crianças.
Essas empresas usam esses dados para vender propagandas. O que acontece com a criança é que ela é bombardeada de anúncios para ela, baseado nos seus gostos, idade, gênero, preferências de brinquedos, cores, hora de dormir, atividades extra-curriculares, etc. E sabemos que crianças não recebem esses anúncios como adultos, é um conteúdo muito mais violento e perigoso para elas. Além de que praticamente não há nenhum órgão que regule essas propagandas, principalmente aqui no Brasil.
Muitos apps infantis estão mudando a sua estratégia de monetização, onde o usuário precisa fazer a compra do app. Existe dois modelos mais usados hoje em dia: o que você paga pelo app e o que você paga pela assinatura. O que você paga pelo aplicativo unitário,a compra é feita ao baixar o aplicativo na loja de apps. Geralmente você só paga uma única vez e todos os conteúdos estão disponíveis, mas não há novos conteúdos, apenas atualizações para resolver possíveis bugs.
Quando o app é assinatura, você faz o download do app de graça e é só dentro do aplicativo que você vai fazer a compra dos conteúdos. Você precisa assinar um dos planos oferecidos para ter acesso. Os planos podem ser mensais onde você paga todo o mês; semestrais, onde você paga a cada seis meses; ou anuais, onde você paga pelo ano inteiro. A compra é feita depois de senhas, controles parentais e telas “de adulto” que não chamam atenção das crianças, ou seja, é muito difícil que a criança compra uma assinatura sem querer.
Aplicativos de assinatura geralmente oferecem um período de teste para que a criança experimente o app e os pais possam decidir se vale a pena fazer o investimento. Como é um investimento mês a mês, apps de assinatura geralmente oferecem novos conteúdos e sempre estão atualizando as novidades dentro do aplicativo.
Esses dois modelos não têm propagandas, ou seja, os dados das crianças não são comercializados. Isso quer dizer que esses aplicativos não pegam os dados dos meus filhos? Não, não quer dizer isso. Esses aplicativos pegam alguns dados que quem usa o app sim, mas esses dados não são vendidos para marketing para que mais propagandas “assertivas” apareçam para o seu filho.
Os apps pagos usam os dados dos usuários para melhorar a experiência dentro do app. Por exemplo: é através desses dados que os desenvolvedores do app identificam um bug, ou quando o botão importante não está comunicando o necessário porque não está sendo usado. Como esses aplicativos não contém anúncios, esses dados não saem dos aplicativos.
As redes sociais estão cada vez mais presentes nas nossas vidas. Compartilhar a rotina, viagens, o que comemos, quem encontramos e o que estamos ouvindo já não é estranho, tanto que existem pessoas que fazem disso seu trabalho e sua fonte de renda. Em meio a tudo isso, alguns cuidados que precisamos ter nas redes sociais passam despercebidos, em especial por pais e pessoas que vivem com crianças.
Apesar da internet proporcionar coisas muito boas, como redes de apoio de mães e pais, por exemplo, há certos comportamentos que precisam ser revistos e questionados. Será que é saudável que uma criança cresça com tantos momentos de sua vida expostos na internet? A principal ferramenta para continuar saudável nas redes sociais é o bom senso.
Compartilhamos aqui uma tradução do guia de redes sociais para mães e pais feito pelo Common Sense Media para facilitar essa auto avaliação.
Para você, a imagem do ultrassom do seu bebê pode ser a coisa mais preciosa do mundo. Para o resto do mundo, é só mais um conteúdo. Plataformas de redes sociais rastreiam dados, os seguidores “julgam” o seu post e suas informações podem ser copiadas, compartilhadas, ou usadas de outras formas.
Faça as três perguntas abaixo para determinar se você precisa expor menos o seu post. Se sim, você pode enviar a publicação para pessoas específicas, criar um grupo privado só com convidados, ou ajustar o seu perfil para o modo privado.
O que é o super compartilhamento? Fotos de cocô, constantes compartilhamentos de cada risada, lives de momentos íntimos como amamentação, hora do banho ou da fase em que a criança está aprendendo a usar o banheiro. Pense no conteúdo e na frequência com que você posta nas redes sociais.
É bom receber informações de seus amigos online, ou dicas de maternidade da blogueira que você gosta pelas redes sociais. Mas em relação ao assuntos mais importantes (como alimentação,saúde e segurança, dinheiro e educação, por exemplo), fale com seu pediatra, professor, consultor financeiro, ou até a sua mãe. As coisas com consequências mínimas, como quando colocar sapatos no bebê ou o melhor momento para cortar as unhas é ok para consultar a comunidade online.
Muitos pais criam contas nas redes sociais para seus bebês com a intenção da criança usar quando já tiver idade suficiente (13 anos, na maioria dos casos). Enquanto pode ser divertido para parentes e amigos próximos terem notícias da criança, o perfil cria uma “pegada digital” que engloba rastreamento de dados, marketing e outros problemas de privacidade. Se você decidir criar um perfil assim para o seu bebê nas redes sociais, tenha certeza de que há o mínimo de informações possível. Deixe o perfil no privado e evite postar fotos que podem deixar a criança envergonhada quando crescer.
Assine um serviço de armazenamento de fotos. Como sabemos que existem muitos pais que usam as redes sociais como um ‘álbum de fotos’, essa é uma boa solução. Plataformas de armazenamento como Flickr, Google Fotos, e até Dropbox ou Google Drive são ótimas para essa função. Você pode compartilhar com quem quiser e até organizar as fotos em pastas. Estas opções oferecem o pacote gratuito, que tem um certo espaço disponível. Se você precisar e quiser ter mais espaço, você tem a opção de comprar mais espaço.
:: Leia também: O que é preciso saber sobre publicidade infantil? ::
Fique longe de gatilhos. As postagens de blogueiras ou outras pessoas que você segue que parecem ter uma vida perfeita podem te fazer mal, afinal, você pode, sem querer, começar a comparar a sua situação com o que você consome nas redes sociais. Deixe de seguir contas que fazem você se sentir mal.
Altere suas configurações. A maioria das redes sociais permite silenciar contas, na qual as postagens dessa conta não aparecem mais na sua linha do tempo. Você continua tendo acesso, mas só se visitar o perfil da pessoa. Quem teve a conta silenciada não fica sabendo e você pode voltar atrás quando quiser.
Gerencie suas notificações. Quanto mais o celular te chama, mais você tem vontade de olhar as notificações e conferir as novidades, o que pode se tornar cansativo. Você pode desativar totalmente as notificações (recomendamos, principalmente das redes sociais!) ou permitir que receba apenas mais importantes.
Afaste-se. Os impactos das redes sociais ainda não são totalmente compreendidos. Novos pais podem ser mais vulneráveis, e as redes sociais não ajudam no quesito confiança. Se você tiver mais momentos sentindo-se mal do que bem em relação ao mundo online, e compartilhar fotos da sua vida não te faz se sentir melhor, converse com um profissional sobre o que você está passando.