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Os Contos Budistas de Jataka para Crianças

Luisa Scherer

Atualizado: 23 de ago. de 2023


A tradição oral faz parte das culturas ao redor de todo o mundo. Era através de contos, lendas, fábulas e histórias que as informações eram disseminadas antigamente, e isso persiste até hoje. Entre os budistas, isso não é diferente. Hoje vamos falar de Jataka, os contos budistas originais da Índia que narram as vidas passadas de Buda Shakyamuni, que viveu entre 563 a.C a 483 a.C.


Contos Budistas de Jataka


Os contos de Jataka são uma coleção de 547 contos budistas de moralidade em que Buda conta algumas de suas vidas passadas e o caminho até a iluminação. O termo Jataka significa “narrativas de nascimentos” no idioma Pali. Apesar de ser parte do Pali Canon, o livro sagrado Budista, os contos são mais folclóricos que religiosos. Nas Jatakas, as histórias budistas, o Bodisatva (quem tem a determinação de iluminar-se, como um aluno antes de ser buda) normalmente nasce como um animal e supera situações de dificuldades ou resolve problemas de forma criativa e cômica.


As histórias representam, de uma forma direta ou indireta, o incansável aperfeiçoamento do bodisatva ao longo de inúmeros nascimentos nos quais praticou as Dez Perfeições: generosidade, virtude, renúncia, determinação, energia, paciência, amor ou bondade, sabedoria, verdade e equanimidade.


Cada Jataka representa um desses nascimentos de Buda em diferentes reinos da existência cíclica chamado Samsara e demonstra como funciona a lei de causa e efeito, também conhecido como carma.


Muito mais do que histórias de “era uma vez”, as Jatakas foram utilizadas por conta de seus ensinamentos morais e espirituais.


Por Dentro da Cultura Budista: Quem é Buda


Buda é um título dado no Budismo para pessoas que despertam plenamente para a verdadeira natureza dos fenômenos e divulgam tal descoberta aos demais. Esse despertar consiste no entendimento de que todos os fenômenos são impermanentes, insatisfeitos e impessoais, e a pessoa que é buda torna-se consciente dessas características da realidade vivendo de maneira plena, livre dos condicionamentos mentais.


Buda também pode fazer referência a Sidarta Gautama, um príncipe de uma região do Nepal que abdicou do seu título para se dedicar à busca da erradicação das causas do sofrimento humano e de todos os seres. Nessa busca, Sidarta Gautama encontrou o caminho da iluminação e se tornou mestre e professor espiritual, fundando o budismo.


Três contos budistas de Jataka para Crianças:



Era uma vez uma manada de 80 mil elefantes no coração do Himalaia. Seu líder era um majestoso elefante branco que era extremamente bondoso. Ele amava muito sua mãe, que já era velha e cega, e sempre cuidou muito bem dela.


Todos os dias o elefante branco penetrava fundo na floresta em busca das melhores frutas silvestres para oferecer à mãe. Ele costumava enviar frutas a ela através de seus mensageiros. Os mensageiros eram um bando de elefantes gananciosos, que comiam as frutas e nunca davam nada para a velha mãe do elefante branco. O elefante branco ficou completamente desapontado com seu rebanho.


Então, ele decidiu abandonar o rebanho e ir com sua mãe para o monte Candorana para morar em uma caverna ao lado de um belo lago que tinha lindos lótus rosados.


Aconteceu que um dia, um forasteiro de Banaras se perdeu na floresta e ficou absolutamente aterrorizado ao se encontrar sozinho na mata fechada. Ele estava chorando amargamente e desesperadamente procurando por alguma ajuda. O elefante branco teve pena do homem e prometeu ajudá-lo. Ele conhecia cada centímetro daquela densa floresta e mostrou para o forasteiro o caminho para a cidade de Banaras. O homem agradeceu ao elefante branco e voltou feliz para casa.


Depois de alguns dias, o forasteiro ouviu a notícia de que o elefante pessoal do rei Brahmadutta havia morrido e ele estava procurando por um novo elefante. O homem pensou que, se contasse ao rei sobre o majestoso elefante branco que tinha visto no monte Candorana, certamente receberia uma recompensa. Então, ele contou ao rei sobre o elefante branco, que decidiu ir em busca do animal no dia seguinte.


O forasteiro então levou o rei e seus homens ao local onde morava o elefante branco. Quando o elefante branco viu o forasteiro, percebeu que era ele quem havia conduzido os homens do rei até ele. Ele estava muito chateado com o egoísmo e a ingratidão do homem.


O elefante decidiu não lutar porque isso levaria a um derramamento de sangue desnecessário. Assim, o elefante branco foi junto com o rei e seus homens para a cidade de Banaras.


Naquela noite, quando o elefante branco não voltou para casa, sua mãe ficou muito preocupada. Ela ouviu toda a comoção lá fora e imaginou que os homens do rei deviam ter levado seu filho. Ela apenas se deitou em sua caverna e chorou amargamente.


Enquanto isso, o elefante branco foi levado para a bela cidade de Banaras, onde recebeu uma grande recepção no galpão real dos elefantes. Os guardas prepararam um banquete para ele e decoraram o estábulo com flores perfumadas. Mas o elefante não tocou na comida e nem parecia impressionado com o lindo e confortável galpão. Ele apenas ficou lá com uma expressão triste no rosto.


O assunto foi relatado ao rei, que visitou o elefante branco para descobrir o que o afligia. Ao ser interrogado, o elefante branco contou ao rei sobre sua velha mãe cega. Ele expressou o desejo de voltar para ela, pois em sua ausência ela não seria capaz de se sustentar e morreria.


O rei compassivo foi tocado pela história do elefante e pediu-lhe que voltasse para sua velha mãe cega e cuidasse dela como vinha fazendo o tempo todo. O elefante feliz foi correndo para casa o mais rápido que pôde. Sua mãe reconheceu imediatamente o cheiro de seu filho e ficou muito feliz por tê-lo de volta. Ela abençoou o bondoso rei com paz, prosperidade e alegria até o fim de seus dias.


O elefante branco cuidou bem de sua mãe até o dia em que ela morreu. O rei costumava visitá-lo na floresta. Quando o elefante branco morreu, o rei ergueu uma estátua dele ao lado do lago e realizou um festival anual de elefantes em sua memória.




Era uma vez milhares de cabras que viviam numa caverna montanha acima. Um casal de lobos também viviam por perto, em outra caverna. Tanto a loba quanto o lobo adoravam o gosto de carne de cabra e caçaram as cabras da caverna vizinha uma a uma. Até que sobrou a última das cabras. A última cabra era muito esperta para o casal de lobos e sempre conseguia se livrar deles.


Certo dia, o lobo disse para a loba: “Vamos pregar uma peça na cabra. Você vai pra caverna dela sozinha e diga que eu morri. Tente ganhá-la através do seu pesar fingindo tristeza e peça ajuda a cabra para enterrar o meu corpo. Tenho certeza de que a cabra irá se compadecer e irá vir aqui com você. Quando ela vier perto de mim, vou morder seu pescoço e matá-la, e nós dois iremos nos deliciar com sua carne.”


O lobo então se deitou e sua esposa foi até a caverna da cabra para encontrá-la e dizer tudo conforme o combinado. A sábia cabra ouviu a história da loba, mas manteve-se sentada dentro de sua caverna. De lá de dentro ela disse à loba: “Minha querida, você e seu falecido marido mataram todos os meus familiares e amigos. Eu não acho que estarei muito segura saindo daqui com você.”


“Não tenha medo, eu estou de luto pela morte do meu marido e, por causa disso, eu decidi não matar nem um animal por uma semana”, disse a loba. “E meu marido está morto agora. Que mal um lobo morto pode te fazer?”


A loba fez de tudo para convencer a cabra a acompanhá-la e conseguiu. A sábia cabra saiu de sua caverna para acompanhar a loba até a outra caverna, mas a cabra ainda não estava segura em relação às intenções da loba e pediu para que a predadora ficasse à sua frente.


O lobo, que fingia estar morto em frente à sua caverna há algum tempo, começou a ficar impaciente. Ele estava com fome e levantou um pouco sua cabeça para ver se a cabra estava vindo com sua esposa. A sábia cabra viu o lobo levantar a cabeça e correu de volta para sua caverna.


“Por que você levantou a cabeça? Nós quase estávamos com as garras nela”, a loba repreendeu seu marido. Ela disse: “Embora sua tolice tenha estragado nossos planos, vou tentar trazer a cabra para a nossa caverna mais uma vez.”


A loba retornou à caverna da sábia cabra e disse: “Minha amiga, sua presença é divina! No momento em que você chegou perto do meu marido, ele voltou à vida. Ele está se sentindo muito melhor. Sou muito grata por você. Vamos ser amigas e ter bons momentos juntas.”


A sábia cabra sabia que a loba estava tentando aplicar o golpe novamente. Então a cabra disse: “Minha amiga, estou feliz por ouvir a boa notícia. Nós temos que dividi-la com todos os animais que pudermos. Levarei alguns de meus amigos para a sua caverna, e então dividiremos bons momentos todos juntos”.


A loba não fazia ideia de quem eram os amigos da cabra e perguntou: “Quem são seus amigos? Me diga seus nomes”. A cabra respondeu: “Levarei dois cães, o Old Gray e o Young Tan, e um grande buldogue chamado Four-Eyes. Eu pedirei para que levem seus pares”.


A loba ficou com medo dos cachorros e fugiu para sua caverna. Ela contou para seu marido sobre os amigos ferozes da cabra. Então, o casal de lobos saiu correndo e a sábia cabra nunca mais os viu.



Certa vez, um fazendeiro tinha em sua fazenda dois touros grandes e fortes chamados Vermelhão e Vermelhinho. Ele também tinha um porquinho que morava com os touros. Enquanto os touros trabalhavam bastante no campo, o porco não fazia nada.


Um dia, o fazendeiro disse que sua filha iria casar e ordenou que seus homens engordassem o porco para a festa de casamento. A partir daquele dia, os homens que trabalhavam para o fazendeiro começaram a alimentar o porco com uma dieta rica e comidas fartas e gostosas.


Diante da situação, Vermelhinho disse a Vermelhão: “Irmão, veja só a sorte desse porco preguiçoso! Ele está comendo todas essas comidas deliciosas sem fazer nada. E nós, apesar de trabalharmos tanto, comemos apenas alguns capins.”


O Vermelhão respondeu: “Querido irmão, não inveje o porco, ele está comendo o alimento da morte. Ele está sendo engordado para a festa de casamento e logo será abatido pelo fazendeiro. É melhor comer grama seca e palha e viver muito do que ter um banquete rico e ser morto.”


Fontes:

  • Histórias Jatakas: da transmissão oral à materialização em linguagem escrita e visual (Caterine da Silva Cunha e Lizete Dias de Oliveira) MOUSEION, n.9, jan-jul, 2011 ISSN 1981-7207

  • The Jataka Tales

  • The Jataka Tales: Stories of the Lives of the Buddha (learnreligions.com)


Texto: Luisa Scherer



 
 
 

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